Friday, February 02, 2007

amor é...


Foi até ao Chão da Lage, sentou-se numa pedra, perto das amendoeiras. O sol estava ainda quente , das videiras pendiam grossos cachos de uvas já maduras e amou a beleza daquele local, a força das árvores em redor, os penhascos de granito que um pouco mais à frente se avistavam.
Lembrou-se de Amândio naquele último Natal que passaram juntos. Viu-o no fim do ano, frente à lareira, na tranquilidade dos seus 95 anos, a ler um livro que tinha de terminar nessa noite e recordou-o nessa forma de Amor que fora toda a sua vida. Amor pela Terra que lhe dava o pão e o sustento para a família , amor pelos sete filhos que sua mulher lhe dera, amor pela natureza e pelos animais que o ajudavam na lavoura e que trazia aconchegados na loja , por baixo da casa, que os tempos eram difíceis , então. Tempos de guerra e de racionamento, as senhas do pão nunca chegavam para todos na aldeia e num acto de amor , era ele que ficava sem elas; tempos de denúncia e repressão em que recebiam instruções lá do governo de Lisboa para apontarem todos os que não fossem votar nas eleições no tempo em que não havia jornais nem rádio nem tv nem luz eléctrica e o partido era um só e Amândio , num gesto de amor preenchia os boletins e os cadernos eleitorais e votava por todos eles…
um extracto deste texto foi publicado no Livro " O QUE É O AMOR?" e dedicado a um dos filhos de Amândio, que hoje faz anos.

4 comments:

Tozé Franco said...

Bonito texto. As memórias dos mais velhos estão a perder-se irremediavelmete, havendo coisas que nunca mais poderão ser reconstituídas.
É uma pena.
Bonita homenagem.

Maria P. said...

Excelente! E as imagens lindas.

Boa semana*

Pitanga Doce said...

Sinto a tua falta no Pitanga...e ainda estou a espera da neve para ir a Avelãs.

beijos

Maria Cristina Amorim said...

Olá, já ando a lêr o texto á uns dias, o que te aconteceu? Foste brincar lá para cima, na Torre?
Beijos.