
Foi até ao Chão da Lage, sentou-se numa pedra, perto das amendoeiras. O sol estava ainda quente , das videiras pendiam grossos cachos de uvas já maduras e amou a beleza daquele local, a força das árvores em redor, os penhascos de granito que um pouco mais à frente se avistavam. E então , apercebeu-se que ele estava por ali também, estranhando vê-la, mas agradado por isso.



Lembrou-se de Amândio naquele último Natal que passaram juntos. Viu-o no fim do ano, frente à lareira, na tranquilidade dos seus 95 anos, a ler um livro que tinha de terminar nessa noite e recordou-o nessa forma de Amor que fora toda a sua vida. Amor pela Terra que lhe dava o pão e o sustento para a família , amor pelos sete filhos que sua mulher bem-amada lhe dera, amor pela natureza e pelos animais que o ajudavam na lavoura e que trazia aconchegados na loja , por baixo da casa, que os tempos eram difíceis , então. Tempos de guerra e de racionamento, as senhas do pão nunca chegavam para todos na aldeia e num acto de amor , era ele que ficava sem elas; tempos de denúncia e repressão em que recebiam instruções lá do governo de Lisboa para apontarem todos os que não fossem votar nas eleições no tempo em que não havia jornais nem rádio nem tv nem luz eléctrica e o partido era um só e Amândio , num gesto de amor preenchia os boletins e os cadernos eleitorais e votava por todos eles…

Quando Amândio caiu à cama doente , os filhos amorosamente revezaram-se para o tratar e cuidar , nunca esteve só . Até os netos, com muito amor, ficavam aos pares , fazendo turnos, quando foi preciso acompanhá-lo dia e noite.
E com muito amor , acompanharam-no à sua última morada, cheios de carinho e respeito pelo Avô, pelo Pai , pelo Homem mais velho da aldeia, conhecido pela sua rectidão, pelo seu Amor ao próximo, pelo Amor à Terra.
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